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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Jesus Envia uma Revelação aos Seus Servos (Apocalipse 1:1-8)

Muitos comentários sobre o Apocalipse dedicam capítulos inteiros a questões de autoria, data, estilo, etc. Nosso estudo, necessariamente, abordará estas mesmas questões. Eu prefiro, porém, considerar tais assuntos no contexto do estudo do livro, conforme as próprias evidências internas surgirem. Já nos primeiros versículos, encontramos algumas pistas importantes.

Esta lição e outras que seguem dividirão o texto em parágrafos, e depois em versículos ou frases. Sempre leia o parágrafo inteiro antes de voltar aos comentários sobre cada versículo. Lembre-se que os comentários refletem o entendimento de um homem, e nada mais do que isso. Você deve avaliar, questionar e exercer a sua liberdade de discordar, mas sempre com base na palavra de Deus. O propósito dessas lições é de facilitar o estudo do livro, não de dar uma interpretação oficial ou definitiva.

Decidi incluir o texto do livro nas lições para facilitar o estudo e permitir que cada aluno grife pontos importantes, anote suas próprias observações, etc. O aluno ainda terá que usar a própria Bíblia para as citações de outros livros ou outros trechos do Apocalipse.


Jesus Envia uma Mensagem aos Fiéis (1:1-3)

1:1-2 –  "Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer e que ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João, 2 o qual atestou a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo, quanto a tudo o que viu."
Revelação (gr. Apokalupsis): algo descoberto, exposto, manifesto. A mensagem deste livro foi revelada para ser entendida pelos servos de Jesus. A corrente de transmissão da mensagem: Deus (Pai) a deu a Jesus Cristo, e ele a enviou por intermédio do seu anjo e notificou ao seu servo João, para mostrar aos seus servos.
Deus
Qual João? O nome João era comum no primeiro século, e o versículo aqui não oferece nenhuma descrição a mais (apenas diz que era servo de Cristo, assim o colocando na mesma categoria dos ouvintes) para identificar o autor do livro. Desde a antigüidade, quase todos os comentários sobre este livro o atribuem ao apóstolo João, filho de Zebedeu. É geralmente aceito que ele escreveu, também, o evangelho e as três epístolas identificadas em nossas Bíblias com o mesmo nome (João). A leitura dos outros livros dele, especialmente do evangelho de João, ajuda na compreensão da mensagem do Apocalipse.

As coisas que em breve devem acontecer: Veja novamente os comentários na lição 2 sobre o significado dos limites de tempo no texto do Apocalipse. Agora, considere um contraste que reforça o ponto. Daniel teve uma visão sobre “o tempo do fim” (Daniel 8) em que viu a queda da Pérsia aos gregos, e a expansão dos gregos (helenistas) para controlar a terra dos judeus e profanar as coisas sagradas deles. Daniel fez esta profecia cerca de 550 a.C. (8:1) e falou de coisas que chegaram à época de Antíoco IV (Epífanes), aproximadamente 165 a.C. O tempo da visão de Daniel até o cumprimento foi menos de 400 anos. O anjo Gabriel disse: “se refere a dias ainda mui distantes” (8:26). Se um período de menos de quatro séculos são dias “mui distantes”, obviamente “em breve” e “próximo” (1:3) se referem a coisas que aconteceriam logo depois das visões de João. Este contraste entre o tempo das profecias de Daniel e de João se torna mais nítido ainda quando chegamos a 22:10, onde João foi proibido de selar a sua profecia “porque o tempo está próximo”. Qualquer interpretação do Apocalipse que sugere que o cumprimento principal do livro ainda acontecerá (quase 2.000 anos depois de João) se opõe ao texto do próprio livro.

A palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo: João não teve dúvida sobre a fonte de sua mensagem. Ele coloca este livro na mesma categoria de outras Escrituras. João “atestou ... a tudo que viu”. Ele fez questão de transmitir a revelação recebida, até comentando em alguns momentos da sua própria dificuldade em entendê-la (veja 7:13-14). A revelação do Apocalipse foi em forma de visões, de imagens dramáticas, que transmitiram a mensagem que Jesus queria repassar para os seus servos. João relatou o que viu.

1:3 – "Bem-aventurados aqueles que lêem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo."

Bem-aventurados:
Sete vezes no Apocalipse, e dezenas de outras vezes na Bíblia, a expressão “bem-aventurado” ou “feliz” descreve as bênçãos dos fiéis que mantêm a comunhão com Deus. O exemplo mais conhecido se encontra no sermão do monte (Mateus 5:3-11). Aqui, os bem-aventurados são:
aqueles que lêem – literalmente, “aquele (singular) que lê”, a pessoa que faria a leitura do livro nas reuniões públicas das igrejas.

aqueles que ouvem as palavras da p r o fe c i a – os ouvint e s , especificamente, os servos nas igrejas que receberam o livro. Por extensão, entendemos que Deus nos abençoa com esta mesma mensagem. Ele trata o livro como profecia, uma revelação nova de Deus para os seus servos.

e guardam as coisas nela escritas – profecia não serve apenas para informar ou predizer. Serve também para instruir. Deve ser obedecida. A mensagem do Apocalipse exigia uma resposta ativa dos seus ouvintes, especificamente a de fidelidade em vista das perseguições (veja 2:10).
Pois o tempo está próximo: Veja os comentários acima (versículo 1) sobre o tempo referido. A obediência era urgente, pois a profecia falou de coisas que iam acontecer logo depois da transmissão desta mensagem aos fiéis. 



Do Alfa e Ômega às Sete Igrejas (1:4-8)
1:4-5a – "João, às sete igrejas que se encontram na Ásia, graça e paz a vós outros, da parte daquele que é, que era e que há de vir, da parte dos sete Espíritos que se acham diante do seu trono 5 e da parte de Jesus Cristo, a Fiel Testemunha, o Primogênito dos mortos e o Soberano dos reis da terra."
João, às sete igrejas que se encontram na Ásia: Nos capítulos 2 e 3, encontramos cartas endereçadas aos anjos de sete igrejas na Ásia. Tudo indica que eram igrejas reais que existiam naquela época, mas não eram as únicas igrejas na Ásia no primeiro século. Existiam igrejas em outros lugares na Ásia Menor: Trôade (Atos 20:5-7), Colossos (Colossenses 1:1), Hierápolis (Colossenses 4:13). Jesus escolheu sete igrejas, talvez como um número completo e simbólico, que representam as caracterísitcas das igrejas da região. Se o livro for levado de umaa outra igreja na ordem das cartas, a viagem seguiria assim (distâncias aproximadas): Partindo de Éfeso, indo 65 km ao norte, chegaria a Esmirna, e seguindo mais 95 km estaria no ponto mais ao norte do circuito, Pérgamo. Daí, seguiria a estrada ao sudeste, passando em Tiatira (70 km de Pérgamo) e continuando mais 50 km até Sardes. Seguindo mais 43 km ao sudeste, estaria em Filadélfia. Aproximadamente a 75 km de Filadélfia, chegaria a Laodicéia, a qual ficava numa rota comercial que voltava para Éfeso, onde esta viagem começou.

Graça e paz: Saudações tradicionais nas cartas do Novo Testamento.

Da parte de: Versículos 4 e 5 repetem a frase “da parte de” três vezes, dando ênfase à origem divina da revelação:  Aquele que é, que era e que há de vir – Embora esta descrição possa identificar qualquer uma das pessoas divinas, aqui se refere ao Pai, pois ainda virão mais dois.

Os sete Espíritos – Outras passagens deixam claro que há um só Espirito (Efésios 4:4), e assim Jesus e os apóstolos freqüentemente falavam do Espírito Santo no singular. Sabendo que sete representa algo completo ou perfeito, o sentido mais provável é da perfeição do Espírito Santo. A pedra do sacerdote Josué tinha sete olhos (Zacarias 3:9). Diante do trono de Deus se encontram sete tochas, “que são os sete Espíritos de Deus” (4:5). Os sete olhos do Cordeiro “são os sete Espíritos de Deus enviados por toda a terra” (5:6). Embora nenhum versículo absolutamente afirma que os sete Espíritos sejam o Espírito Santo, a sua colocação entre as outras duas pessoas divinas apóia esta interpretação.

Jesus Cristo – Não há dúvida sobre a identidade de Jesus, descrito aqui como:  a Fiel Testemunha – Ele é o sim e o amém das promessas de Deus (2 Coríntios 1:20-22), o cavaleiro chamado Fiel e Verdadeiro (19:11).

o Primogênito dos mortos –
Jesus não foi o primeiro a ser ressuscitado, mas ele tem primazia sobre todos (Colossenses 1:18). Aquele que ressuscitou-se e tem domínio sobre todos envia uma mensagem para confortar os perseguidos, incluindo alguns que morreriam por sua fé.

o Soberano dos reis da terra – Jesus não domina apenas os servos fiéis; ele é o Soberano dos reis humanos (veja Daniel 4:32). Ele governa os governantes, incluindo aqueles que perseguiriam os santos. Obs.: Alguns premilenaristas, como Hal Lindsey, dizem que a confusão no mundo mostra que Jesus, embora tendo o direito de reinar sobre a terra, não está exercendo o seu direito atualmente. A Bíblia afirma que Jesus é o Soberano dos reis da terra. Pedro diz que os poderes estão sujeitos a Jesus (1 Pedro 3:22). Paulo diz que todas as coisas já foram colocadas debaixo dos pés de Jesus (Efésios 1:22-23). No Apocalipse, Jesus mesmo disse que já recebeu esta autoridade do Pai (2:27-28). Devemos acreditar nas afirmações das Escrituras ou nas interpretações de premilenaristas? Acreditamos nas palavras de Jesus em Mateus 28:18?

1:5b-6 – "Àquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, 6 e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!"
Àquele que nos ama: Jesus domina reis, e ama seus servos humildes! O amor divino é um tema constante nos escritos de João (João 3:16; 1 João 4:7-21; etc.). Este fato, em si, mostra o poder do evangelho de efetuar uma transformação total no coração do homem. Um filho do trovão (Marcos 3:17; Lucas 9:54) se tornou o apóstolo do amor!

pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados: Jesus morreu na cruz para nos salvar, se apresentando como o único sacrifício eficaz para purificar pecadores (veja Hebreus 9:12,14,22). Na remissão dos pecados achamos a única verdadeira libertação (Colossenses 1:13-14).

e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai: Os impérios humanos reduziram homens livres à escravidão, como servos de tiranos. Jesus liberta escravos do pecado e os constitui
um reino de sacerdotes para Deus! Veja 1 Pedro 2:9-10.

a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!: Jesus é tudo que o versículo 5 diz, e fez tudo que é relatado nos versículos 5 e 6. Ele é digno de glória e domínio para sempre! A
glória de Roma ou qualquer outro império iria desvanecer-se. A glória de Jesus dura para sempre! Amém! Que assim seja!

1:7 – "Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá, até quantos o traspassaram. E todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Certamente. Amém!"
Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá, até quantos o traspassaram. E todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Certamente. Amém!: O eterno Jesus virá com as nuvens. A vinda nas nuvens sugere a presença e a autoridade divina, especialmente seu poder para julgar ou castigar (veja Êxodo 14:24; 19:9,16; 20:21; 24:16,18; 34:5; 40:34-38; Números 11:25; 12:5,10; Deuteronômio 5:22; 2 Crônicas 5:13-6:1; Salmo 18:11; Isaías 19:1; 30:27; Daniel 7:13-14; Mateus 17:5; 24:30; 26:64). Há duas possíveis interpretações desta promessa:  

Œ
A segunda vinda de Jesus, quando julgará todos os homens (veja 1 Tessalonicenses 4:17; João 5:27-29).

A vinda de Jesus para castigar algum povo ou poder na terra (veja as citações acima que falam de castigos na terra). Dentro do contexto, a segunda possibilidade faz muito mais sentido. Da mesma maneira que Jesus prometeu castigo para Jerusalém na sua profecia apocalíptica (Mateus 24 e relatos paralelos), aqui ele fala do castigo de algum poder ou povo que não respeitava a autoridade do Soberano Senhor. Qual poder ou povo? Alguns acreditam que a principal aplicação das profecias do Apocalipse seria a Jerusalém, e que o cumprimento delas se encontra na destruição da cidade em 70 d.C. A favor desta interpretação, ele fala aqui daqueles que o traspassaram. Outros acreditam que o alvo da ira de Deus seria Roma ou um dos seus imperadores. A favor desta interpretação, encontramos aqui a lamentação de todas as tribos da terra. Porém, esta citação assemelha-se a Mateus 24:30, e pode ser usada para apoiar a aplicação a Jerusalém. Ao invés de tentarmos definir já o povo em vista, vamos continuar estudando e procurando mais esclarecimento dentro do próprio livro.

Certamente. Amém!: Não há dúvida. O Soberano trará julgamento!
1:8 – "Eu sou o Alfa e Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-Poderoso."
Alfa e Ômega: A primeira e a última letra do alfabeto grego. Deus é eterno (aquele que é, que era e que há de vir), o começo e o fim. O Senhor Deus aqui pode ser o Pai (que fala, também, em 21:5-8 e é descrito como “o Senhor Deus, o Todo-Poderoso” em 4:8). Mas as mesmas palavras podem ser aplicadas ao Filho, em quem “habita ... toda a plenitude da Divindade” (Colossenses 2:9), pois Jesus Cristo “é o esplendor da glória e a expressão exata do seu Ser” (Hebreus 1:3).

Todo-Poderoso: Este selo de autoridade encerra-se com mais uma afirmação da natureza absoluta de Deus. Ele é o Todo-Poderoso. Esta descrição de Deus aparece 9 vezes no Apocalipse, e se
encontra em 50 outros versículos na Bíblia, a maioria no livro de Jó. Os servos perseguidos da época de João precisavam lembrar-se do poder absoluto do Soberano Deus.

Conclusão
Nestes primeiros versículos do Apocalipse, Deus deixa bem claro que ele, o Eterno e Soberano Senhor, é o autor da mensagem. Os ouvintes, servos dele na Ásia, poderiam depositar plena
confiança no Altíssimo que já demonstrara o seu amor para com eles. Ele, por meio de seu Filho, já os libertara do pecado. Não deixaria o seu povo ser vencido pelas forças do mal.

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